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Felipe Daher retorna à São Nicolau para coletar dados para o seu mestrado (Foto: Felipe Daher)

 

Depois de três anos longe, se dedicando ao mestrado na França, o engenheiro florestal Felipe Daher passou uma semana na Fazenda São Nicolau, entre 15 e 22 de julho, e se impressionou com as transformações realizadas. De 2011 a 2015, Felipe era o engenheiro responsável por diferentes atividades promovidas pela ONF Brasil na São Nicolau e no PA Juruena, como o Programa de Integração Local, os Sistemas Agroflorestais e a recuperação das Áreas de Preservação Permanentes Degradadas (APPD). Os avanços na melhoria da infraestrutura física chamaram a atenção do engenheiro, que, quando trabalhava na Fazenda, acompanhou algumas das obras iniciais para a organização do espaço físico.

Nesta nova visita à São Nicolau, o foco do engenheiro se voltou para as Áreas de Preservação Permanente (APPs) e ele notou bons resultados na recuperação da cobertura vegetal. “Eu gostei muito dos resultados que vi nas APPD e no viveiro, como, por exemplo, a produção de mudas de castanha. Achei muito pertinente o trabalho de mapeamento dos castanhais, a parceria com o grupo de turismo e de saber que o plano de manejo florestal sustentável está aprovado”, elencou.

O mapeamento dos castanhais na região faz parte das atividades de apoio à cadeia produtiva, desenvolvidas em parceria com extrativistas locais. A coleta da castanha-do-Brasil é uma das principais atividades econômicas que valorizam e dependem da floresta em pé no Noroeste de Mato Grosso e já conta com um projeto de minuta para o Plano de Manejo Florestal Sustentável Não-Madeireiro. O engenheiro celebrou ainda a criação da base de dados online que disponibilizará à toda população o conhecimento gerado na Fazenda.

 

O engenheiro notou a recuperação da cobertura vegetal das APPs (Foto: Felipe Daher)

 

Em julho, o Felipe foi a campo na Fazenda para colher dados de monitoramento do estágio de regeneração das áreas restauradas pelo Projeto Poço de Carbono Florestal Peugeot-ONF. A atividade faz parte do seu mestrado em Geomática, área da Geografia dedica à obtenção, gerenciamento e análise de dados espaciais. O projeto de pesquisa, desenvolvido na Universidade de Rennes, na França, pretende verificar e validar a metodologia de interpretação de informações obtidas via satélite com aquelas coletadas em campo, os chamados dados de validação. O trabalho abrange o município de Cotriguaçu (MT) e toda a região do chamado “Portal da Amazônia”. O Portal da Amazônia, área situada no coração do Arco do Desenvolvimento ao Norte de Mato Grosso, se destaca pelos fragmentos florestais que ainda existem no local. A região é delimitada pelos rios Tapajós, Teles Pires, Xingu e Juruena.

O trabalho é realizado em colaboração com o Instituto Centro de Vida (ICV) e o estudo contribuirá para um projeto de pesquisa em maior escala envolvendo os pesquisadores do CIRAD (Centro de cooperação internacional em pesquisa agronômica para o desenvolvimento) em várias localidades da Amazônia. Os aprendizados gerados pela pesquisa do Felipe poderão contribuir para o desenvolvimento do Observatório Territorial do projeto PETRA (Plataforma Experimental para gestão dos Territórios Rurais da Amazônia Legal). Afinal, um dos resultados esperados do trabalho do engenheiro é a atualização da base de dados e de informações da região, em especial sobre a restauração e a regeneração ambiental.

Felipe acredita que a formação dos técnicos e colaboradores da Fazenda também é uma mudança positiva e fundamental para o fortalecimento do trabalho realizado. O engenheiro pontua a importância das atividades e projetos desenvolvidos pela ONF Brasil para a mudança do paradigma ambiental no Noroeste de Mato Grosso.

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Crianças se reúnem no viveiro municipal de Cotriguaçu para aprender sobre o cuidado com o meio ambiente (Foto: Felipe Alan/Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente de Cotriguaçu)

 

O evento, instituído no calendário oficial da cidade pela lei nº 970/2017, estimulou a união da Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente e das organizações que promovem a educação ambiental na região, como a ONF Brasil, o Instituto Centro de Vida (ICV), o Pacto das Águas e os técnicos da Secretária de Estado de Meio Ambiente de Mato Grosso (SEMA-MT). O tema principal escolhido para o evento foi a prevenção das queimadas, pois, no ano passado, Mato Grosso bateu recorde de focos de incêndios.

O objetivo da semana, que compreendeu o Dia Mundial do Meio Ambiente (05 de junho), é envolver a comunidade na conservação do patrimônio natural de Cotriguaçu e uma das ações previstas é a entrega do Diploma do Mérito de Proteção à Natureza, concedido pelo Prefeito a pessoas que prestaram serviços relevantes para o meio ambiente.

A homenagem deste ano foi ao Seu Pedro, responsável por restaurar espontaneamente a beira do córrego que passa em frente da sua casa. O senhor cuida da regeneração de árvores nativas e planta o açaí como forma de conservar o meio ambiente local, quase no seu quintal. A entrega do diploma aconteceu na praça central de Cotriguaçu, durante a cerimônia de encerramento.

A programação da semana também contou com uma visita à Fazenda São Nicolau. Na quinta-feira (07/06), os alunos da Escola Estadual Sidney César. F., localizada no assentamento PA Juruena, passaram o dia na propriedade para uma vivência agroflorestal, conduzida pelo engenheiro florestal Saulo Magnani Thomas.

Ao total, participaram 4 professores e 40 estudantes das turmas do 1º, 2º e 3º ano do ensino médio. A partir da sugestão da diretora de discutir a importância da água, o grupo passou a manhã visitando dois exemplos de Áreas de Preservação Permanente (APPs). A primeira APP degradada à beira de um córrego está em recuperação com o plantio recente de várias espécies pioneiras já se desenvolvendo. Nesse momento, os estudantes lembraram-se dos cursos de água dentro das propriedades onde vivem, no PA Juruena (44 córregos e 18 nascentes). A segunda APP protege o Rio Juruena e possui vegetação nativa da Floresta Amazônica preservada, característica das matas ciliares.

Da primeira APP para a segunda, as turmas pegaram um ônibus e fizeram uma trilha de 3 km. No caminho às margens do Rio Juruena, um grupo de estudantes seguiu acompanhado pela educadora ambiental e presidenta da Associação de Coletores de Castanha-do-Brasil do PA Juruena (ACCPAJ), Veridiana Vieira, com apoio dos professores. Foi a oportunidade para observar com atenção a fauna e a flora do local e conhecerem mais sobre o extrativismo da castanha.

O segundo grupo de estudantes passou pela trilha na companhia do Saulo e de colaboradores da São Nicolau, como o Seu Antônio e o Gilberto Araújo, coordenador de campo, que explicaram suas atividades do dia a dia para a restauração das APPs.

 

Estudantes da escola Sidney César conhecem a APP do Rio Juruena (Foto: Eliane/Sidney Cesar)

Estudantes da escola Sidney César conhecem a APP do Rio Juruena (Foto: Eliane/Sidney Cesar)

 

Pela tarde, os locais visitados foram escolhidos com o propósito de incentivar a utilização na área verde da escola e também de mostrar práticas sustentáveis para a geração de renda e alimentos. Os alunos visitaram, então, as estruturas para o tratamento biológico da água da cozinha e para a compostagem dos resíduos orgânicos, além da roça agroflorestal. Atualmente a roça produz alimentos para a fazenda, como bananas, laranja, milho, melancia, hortaliças e legumes. Os plantios do Projeto Poço de Carbono Florestal (PPCFPO) e o sombreamento do cultivo de café agroflorestal também foram alvo do interesse dos alunos e das explicações do Seu Antônio, colaborador da Fazenda.

A Semana Municipal do Meio Ambiente organizou essas e outras atividades simultâneas em todo o município, como vivências no viveiro municipal, palestras nas escolas, plantios em APPs urbana, apresentações culturais e de poesias e feira de produtos da sociobiodiversidade. Os recursos arrecadados com a venda de pastéis na feira da sociobiodiversidade foram doados para a associação Pestalozzi do município, entidade que apoia pessoas com deficiências e que estimulou a participação do grupo em atividades sensoriais no viveiro de Cotriguaçu.

Todos os envolvidos ficaram muito felizes com a grande mobilização e participação no surpreendente número de atividades propostas. Os próximos passos dos parceiros estão previstos para o período chuvoso, com atividades concretas de plantio em áreas públicas e nas escolas. Para o conselho, fica a tarefa de elaborar uma proposta para encaminhar à Câmara Municipal de Vereadores, de forma a destinar recursos para os eventos seguintes.