Aprimorar técnicas para a pós-colheita do café agroecológico é um dos objetivos das Unidades Demonstrativas a serem implementadas no PA Juruena e na Fazenda São Nicolau (Foto: Acervo ONF Brasil)

Aprimorar técnicas para a pós-colheita do café agroecológico é um dos objetivos das Unidades Demonstrativas a serem implementadas no PA Juruena e na Fazenda São Nicolau (Foto: Acervo ONF Brasil)

No fim de abril, Rafael Pereira de Paula foi contratado como técnico de campo do Projeto TerrAmaz. Além de ser agrônomo, mestre em Agroecologia e doutorando em Agricultura Familiar e Desenvolvimento Rural, Rafael tem um histórico pessoal que contribui para as atividades de transição agroecológica em Cotriguaçu (MT). Ele veio da região Norte de Mato Grosso e é um antigo assentado e agricultor. Sua tarefa principal no TerrAmaz é coordenar a implementação das Unidades Demonstrativas (UDs) no Projeto de Assentamento Juruena e na Fazenda São Nicolau, com foco nas cadeias produtivas do café e da pecuária. O diálogo com os beneficiários é estratégico para a iniciativa e o passado de Rafael é um aliado para estabelecer os contatos e gerar empatia.

Apesar dos desafios e os impactos impostos pela pandemia, o TerrAmaz avança com adaptações no desenho do projeto. Rafael já iniciou a seleção dos beneficiários, sempre com o cuidado de evitar aglomerações.

“Procuramos sempre fazer reuniões remotas pela internet e visitas apenas quando necessário, sempre tomando os cuidados com distanciamento e utilizando máscara e álcool em gel. Tivemos que mudar algumas atividades, como nos convites aos agricultores, que estava previsto para ser em uma reunião coletiva e tivemos que fazer individualmente; e também os intercâmbios que foram adiados. Estamos atentos e todas as nossas ações buscam manter a integridade e saúde de todos os nossos parceiros”, explica Rafael.

Com os protocolos necessários, uma rede de contatos é formada. As próximas ações visando a transição agroecológicas são a realização de um diagnóstico nas propriedades selecionadas. A intenção é implementar 10 UDs no PA Juruena e 2 na Fazenda São Nicolau (uma para café e a outra para pastagem) apenas no primeiro ano. No total, estão previstas 23 UDs para os próximos anos (uma na Terra Indígena Escondido e 10 a mais no PA Juruena).

A expectativa para o futuro próximo é organizar intercâmbios para compartilhamento de experiências entre os agricultores do TerrAmaz e outros que já possuem sistemas de produção consolidados e em transição agroecológica.

CTO se reúne para alinhar e discutir as próximas ações do projeto (Foto: Acervo ONF Brasil)

CTO se reúne para alinhar e discutir as próximas ações do projeto (Foto: Acervo ONF Brasil)

Outros avanços do projeto foram a primeira reunião do Comitê Técnico Operacional (CTO) do TerrAmaz em Cotriguaçu e a execução do estudo de viabilidade de formação de Comitês de Avaliação de Crédito (CACs) do Banco Comunitário Raiz nas comunidades beneficiárias.

O encontro do CTO aconteceu no dia 1º de junho, envolvendo as principais beneficiárias e implementadoras do projeto: ONF Brasil, Instituto Centro de Vida (ICV), Associação de Coletores(as) de Castanha-do-Brasil do PA Juruena (ACCPAJ) e a Aldeia Babaçual. Foram fundamentais para os debates a presença da Estelle Dugachard, diretora da ONF Brasil, Benedita Mendes, técnica do ICV, e Rodrigo Marcelino, indigenista do ICV. A participação do grupo contribui para a gestão estratégica, implementação e monitoramento das atividades em Cotriguaçu, município que se configura como um piloto do projeto.

Durante a reunião, foi apresentado o funcionamento do CTO. Também se compartilhou o balanço das atividades realizadas e a programação para os próximos quatro meses, além de abordar a necessidade de consentimento dos indígenas Rikbaktsa e da Fundação Nacional do Índigo (Funai) para o trabalho na Terra Indígena Escondido.

E o segundo avanço do TerrAmaz, os CACs do Banco Comunitário Raiz, tiveram por objetivo estruturar uma ferramenta de crédito inovador para potencializar a transição agroecológica pretendida. Esse banco é uma organização de economia popular e solidária, sistematizada pelo Instituto Ouro Verde (IOV) desde 2012. Por meio da obtenção de recursos para o investimento e custeio de produtos agroecológicos (produção, transformação e comercialização), o banco fortalece e dinamiza a agricultura familiar e pequenos empreendimentos na Amazônia. O impacto é positivo para o bem-estar das famílias da região.

A avaliação do desenho e do futuro do TerrAmaz também é positiva. “O projeto possui objetivos claros e concisos, com estrutura bem definida e que visa atender às demandas dos próprios agricultores. As primeiras impressões do projeto foram muito positivas e produtivas. Já deu a noção do tamanho dos desafios que enfrentaremos no decorrer do projeto”, justifica Rafael.

O técnico de campo vê o projeto como uma oportunidade para apoiar os beneficiários na obtenção de uma produção de qualidade, sustentável e mais rentável. Participar do projeto e vivenciar as atividades da Fazenda São Nicolau foram outras vantagens encontradas por Rafael ao assumir o cargo.

“A Fazenda São Nicolau me impressionou positivamente pela amplitude dos projetos em que atua, sempre buscando a conservação ambiental, a estrutura é maravilhosa e todos os funcionários me receberam muito bem e me deram todo o apoio que será fundamental para cumprir com os objetivos do TerrAmaz, é uma felicidade imensa conhecer e viver na fazenda.”

Terreiro suspenso aprimora etapa de pós-colheita (Foto: Saulo Thomas/ ONF Brasil)

Terreiro suspenso aprimora etapa de pós-colheita (Foto: Saulo Thomas/ ONF Brasil)

Na continuidade das atividades iniciadas pelo projeto PETRA e com o objetivo de estimular a criação de um grupo de produtores de café agroflorestal em Cotriguaçu, foi organizado, junto com o ICV (Instituto Centro de Vida), um intercâmbio entre os agricultores na propriedade do Sr. Altair, cafeicultor do PA Juruena e na Fazenda São Nicolau.

A atividade que contou com a participação de 12 agricultores apresentou o terreiro suspenso em pleno funcionamento, e os agricultores fizeram várias perguntas ao proprietário sobre custos, construção, tempo de secagem, manejo, rendimento, qualidade do produto e valor agregado.  A programação durou dois dias, de 8 a 9 de maio, e iniciou com um gostoso café da manhã na Fazenda São Nicolau. Uma das participantes, a Dona Maria do PA Nova Cotriguaçu, preparou o mingau de babaçu para fornecer a energia necessária para o grupo.

Além da Dona Maria, participaram os cafeicultores Seu Bispo e Seu Jucimar do PA Juruena (SIM), que também estiveram presentes na oficina de agosto de 2017, e produtores de Alta Floresta, PA Nova Cotriguaçu, e Nova Monte Verde. O objetivo do encontro é promover sistemas de produção econômica e ecologicamente eficientes compartilhando itinerários técnicos adaptados à região e experiências próprias dos produtores.

A visita ao terreiro suspenso construído na propriedade do Seu Altair, localizada na comunidade CDR 9 do PA Juruena, foi um ponto forte da agenda. A estrutura pretende garantir a qualidade do café na etapa pós-colheita. Porém um efeito positivo não planejado foi a possibilidade de iniciar a colheita no período chuvoso, uma vez que a cobertura fornece a proteção necessária aos grãos e permite o aceleramento do tempo de secagem. Em dias de sol, o café demora oito dias para secar completamente e, no período chuvoso, são 12 dias.

A equipe ideal para construir o terreiro é de 12 pessoas para a primeira etapa (medição, abertura dos buracos e levantamento da estrutura) e quatro pessoas para a segunda etapa (instalação da cobertura e estiramento do sombrite), demandando poucos dias para finalizar o projeto.  O Seu Altair utilizou a madeira da fazenda e precisou de mais mil reais para o restante dos materiais.  Atualmente o terreiro funciona com capacidade para 120 latas (1.440 kg) com algumas alterações no projeto inicial (a projeção era para 80 latas ou 960 kg).

O Seu Altair apresentou duas sacas diferentes para comparação. A diferença na qualidade do café é visível. O grão do terreiro suspenso é bem mais limpo e menos úmido, pois é menos atacado por fungos. Contudo a concentração de café maduro é um atrativo para a broca, principal praga do café.

A constatação da incidência de broca foi a oportunidade para instalar as armadilhas recomendadas pelo Idesam (Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia). O grupo preparou e instalou 9 armadilhas, além de deixar mistura de iscas e 90 vidros para novas instalações – completando 20 armadilhas por hectare. O grupo finalizou o dia satisfeito ao constatar que, ao final das instalações das armadilhas, algumas brocas já haviam sido capturadas.

Cafeicultores participam de formação sobre SAFs (Foto: Iris Parrot/ ONF Brasil)

Cafeicultores participam de formação sobre SAFs (Foto: Iris Parrot/ ONF Brasil)

 

De 8 a 11 de agosto, o Programa de Integração Local da ONF Brasil realizou a “Oficina de boas práticas para a produção de café no Projeto de Assentamento (PA) Juruena”. A formação foi dividida em um módulo de palestras e outros de atividades práticas, inclusive com visita a uma área para o plantio de café na Fazenda São Nicolau. Na parte teórica, foram apresentados os princípios básicos dos Sistemas Agroflorestais (SAFs) e a referência bem-sucedida do projeto Café em agroflorestas para fortalecimento de uma economia de baixo carbono em Apuí (AM), realizado pelo Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (Idesam).

A atividade garante continuidade à atuação do PETRA (Plataforma Experimental para gestão dos Territórios Rurais da Amazônia Legal) na formação de um cluster de café agroflorestal no Noroeste de Mato Grosso. O cluster de café agroflorestal é um arranjo colaborativo para reunir os produtores locais. O interesse dos cafeicultores foi identificado a partir da pesquisa “Viabilidade de um projeto agroflorestal baseado no café na Fazenda São Nicolau e integração dos agricultores locais”, realizada entre abril e julho de 2016.

O café foi escolhido pela ONF Brasil porque já é um plantio culturalmente reconhecido na região, o mercado está em alta no momento e a prática permite intensificar o Programa de Revitalização da Cafeicultura no Estado de Mato Grosso (PRÓ CAFÉ) de incentivo ao fruto. Além disso, o aspecto sustentável da oficina é valorizado quando a opção na adubação e controle de pragas, é por produtos orgânicos disponíveis nas propriedades rurais da região. A implementação dos SAFs – com a introdução de espécies arbóreas nos cafezais – é um dos principais elementos para melhorar a qualidade do ambiente com sombreamento, produzir nutrientes para o solo, conservar a água e a terra, além de sequestrar o carbono.

A oficina de agosto ensinou técnicas de manejo aos cafeicultores. A programação compreendeu informações sobre: a poda de formação, renovação e recepa; biofertilizante, compostagem com palha de café, folha de banana, esterco e cinzas; armadilha para broca do café e terreiro suspenso. Os participantes também tiveram a oportunidade de visitar um plantio de café clonal na região.

O maior desafio é abandonar a prática da monocultura. Porém, além das vantagens econômicas, o sequestro de carbono propiciado pelos SAFs é atraente para os agricultores que pretendem contribuir para combater as mudanças climáticas. Uma vez que a agroecologia e a agricultura familiar não utilizam grandes áreas, o produtor consegue tirar uma boa renda em territórios menores, sem a necessidade de derrubadas de árvores. Além disso, o manejo com sistemas de podas contínuas acelera a ciclagem de nutrientes e a fixação do carbono no solo.

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