Cotriguaçu é uma das cinco localidades na América Latina que participam do TerrAmaz (Foto: Acervo TerrAmaz)

Cotriguaçu é uma das cinco localidades na América Latina que participam do TerrAmaz (Foto: Acervo TerrAmaz)

 

O Projeto TerrAmaz – Territórios Amazônicos – é financiado pela Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD) e será implementado pelo consórcio de CIRAD (Centro de cooperação internacional em pesquisa agronômica para o desenvolvimento) em parceria com a ONF International e a AVSF (Agrônomos e veterinários sem fronteiras) com objetivo de “Apoiar os territórios Amazônicos na implementação de suas políticas de combate ao desmatamento e transição para um modelo que permita combinar o desenvolvimento econômico de baixo carbono e conservação de ecossistemas”. As atividades apoiarão cinco sítios piloto em quatro países durante quatro anos: Cotriguaçu e Paragominas (Brasil), Yasuní (Equador), Madre de Dios (Peru) e Guaviare (Colômbia).

Em Cotriguaçu, o projeto será coordenado pela ONF Brasil em parceria com o ICV (Instituto Centro de Vida), sendo que um dos objetivos específicos é a promoção de práticas sustentáveis e estabelecimento de uma rede de propriedades pilotos. Na prática, a iniciativa apoiará a transição agroecológica de atividades produtivas implementando unidades demonstrativas em 20 propriedades de agricultores familiares produtoras de café e pecuária. Também serão instaladas unidades demonstrativas de café agroflorestal e sistema silvipastoril na Fazenda São Nicolau. 

Também serão realizados intercâmbios e capacitações sobre o leque disponível de boas práticas – como biofertilizantes, adubação verde, controle natural de pragas, melhoria de qualidade pós colheita do café com terreiro, certificação orgânica, adubação, rotação e arborização de pastagens.

O coordenador do projeto, Saulo Thomas, pontua a necessidade da mudança de perspectiva sobre as atividades produtivas na região: “Desconsiderando o desmatamento para invasão ilegal de terras, entende-se que a abertura de novas áreas seja necessária para aumentar a produção. A transição agroecológica traz soluções técnicas que permitem aumentar a produtividade na mesma área, usando insumos locais, melhorando a qualidade do solo, água e microclima, além de permitir o acesso a um mercado diferenciado que valorize os produtos com impactos socioambientais positivos”.

Ainda no subobjetivo de promoção de boas práticas, será apoiada a estruturação de agroindústria de beneficiamento de castanha-do-Brasil, que agregará valor ao produto gerando mais renda aos coletores e criando empregos na região. A proposta da ONF Brasil e do ICV é continuar com o apoio constante à Associação de Coletores(as) de Castanha-do-Brasil do PA Juruena (ACCPAJ), parceiro que acompanham desde a criação do grupo quando disponibilizaram uma área para coleta na Fazenda São Nicolau e que foi recentemente fortalecida pelo Projeto Redes Socioprodutivas implementado pelo ICV com financiamento do Fundo Amazônia. A iniciativa também planeja a estruturação de uma brigada de incêndio formada pelos extrativistas para garantir maior proteção das áreas de coleta, mesmo que a prioridade sejam ações preventivas.

 

A exploração sustentável da castanha é uma das principais atividades das fazendas piloto do projeto em Cotriguaçu (Foto: Acervo ICV/Rodrigo Vargas)

A exploração sustentável da castanha é uma das principais atividades das fazendas piloto do projeto em Cotriguaçu (Foto: Acervo ICV/Rodrigo Vargas)

 

Em paralelo, a construção participativa de uma plataforma online (Forland) deve dar apoio ao planejamento e gestão territorial. São previstas funcionalidades de monitoramento do desmatamento em continuidade do trabalho realizado durante o projeto PETRA, dos indicadores do território acompanhando os indicadores PCI (Produzir Conservar Incluir) e da eficiência das práticas.

 

Modelo de ferramenta de monitoramento territorial que será construída pelo Projeto TerrAmaz para apoiar a gestão territorial em Cotriguaçu-MT (Imagem: Acervo da ONF Brasil)

Modelo de ferramenta de monitoramento territorial que será construída pelo Projeto TerrAmaz para apoiar a gestão territorial em Cotriguaçu-MT (Imagem: Acervo da ONF Brasil)

 

Haverá um foco mais específico sobre agricultura familiar, em alinhamento com as atividades da Secretaria Estadual de Agricultura Familiar (SEAF), para o levantamento de dados da agricultura familiar, sua inclusão no SEIAF (Sistema Estadual Integrado da Agricultura Familiar) e construção de um Plano Municipal de Agricultura Familiar (PMAF).

Transversalmente e em todos os territórios serão analisadas as questões de certificação (de produto, cadeia e território), de mecanismos inovadores de financiamento para a transição agrícola e o desenvolvimento de indústrias sustentáveis. Um componente de pesquisa científica produzirá referências sobre políticas públicas, indicadores para monitoramento e certificação da transição sustentável dos territórios assim como referências técnicas e econômicas sobre sistemas sustentáveis agrícolas, florestais e de pecuária.

O engenheiro Saulo Thomas comentou sobre os impactos positivos do TerrAmaz no município: “Para os agricultores na região, o projeto integrará a sustentabilidade financeira e eficiência econômica à sustentabilidade ambiental. A Fazenda São Nicolau favorece experimentações, pesquisa e troca de experiência assim como potencial agregador para o mercado diferenciado e mundo dos negócios de impacto”.

Cotriguaçu foi escolhido por ser um território com grande potencial de transformação, que já possui instrumentos de governança local e diagnósticos produtivos construídos ao longo da implementação de grandes projetos. Um pacto territorial foi assinado em 2018 entre a Prefeitura, o governo do Estado e atores públicos, privados e da sociedade civil, descrevendo os próprios objetivos do território em contribuição à estratégia estadual PCI. O programa REM beneficia várias iniciativas na região, direta e indiretamente. Nesse momento de sinergias e alinhamento entre as políticas públicas do estado e a estratégia territorial, o ICV e a ONF Brasil com seus 30 e mais de 20 anos de presença e atuação na região, pretendem, graças ao TerrAmaz, ajudar a mobilizar os atores e potencializar os diferentes projetos e mecanismos de desenvolvimento.

Mesa de parceiros participantes do webinar de lançamento TerrAmaz em 26/02/2021 (Imagem: Acervo ONF Brasil e ICV)