14

set

2016

Espécie rara de “abelha de orquídeas”, a Eufriesea fragrocara, é encontrada na Fazenda São Nicolau em Mato Grosso

Por forest
  Indivíduo da Eufriesea fragrocara com a coloração verde típica dos machos (Foto: Schorn de Souza, Izzo e Anjos-Silva)

Indivíduo da Eufriesea fragrocara com a coloração verde típica dos machos (Foto: Schorn de Souza, Izzo e Anjos-Silva)

 

O registro ampliou a área de distribuição do inseto em 500 km para o oeste da bacia do rio Amazonas. A espécie rara já havia sido catalogada em Huánuco (Peru) e Napo (Equador). No Brasil, as anotações são de Ouro Preto D’Oeste e Ariquemes em Rondônia. A coleta na Fazenda São Nicolau (Cortiguaçu, MT) foi realizada pelo Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBio) do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. O estudo resultou em artigo assinado por pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), campus de Sinop, e da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), em Cáceres.

O gênero Eufriesea participa da tribo Euglossini Latreille, conhecida popularmente como “abelhas de orquídeas”. A tribo reúne 5 gêneros e se espalha pela região neotropical – que compreende a América Central, a América do Sul e seções do México e dos Estados Unidos. As abelhas Eufriesea são sazonais, ocorrendo em tempo de chuva e no período de 2 a 3 meses por ano.

Em 1960, os cientistas descobriram que o macho de Eufriesea era atraído por aromas sintetizados e similares ao cheio de flores de orquídea. A descoberta viabilizou a descrição de várias espécies. Contudo, verificou-se que algumas espécies deixaram de responder às iscas químicas em décadas recentes.

Devido aos poucos registros existentes, a Eufriesea fragrocara é considerada rara e endêmica da bacia do Rio Amazonas. Existem apenas quatro anotações desta espécie na literatura científica – apesar do macho ser atraído pelo produto químico vanillin.

A observação na São Nicolau ocorreu após 25 anos do último registro e esta foi a primeira vez que a E. fragrocara foi encontrada no Mato Grosso, ampliando sua área de distribuição. A referida abelha pertence ao grupo caerulescens, apresentando dimorfismo sexual marcante. Enquanto a fêmea possui tonalidade violeta, a cor do macho é verde vivo.

A coleta ocorreu a partir de duas saídas de campo entre outubro e dezembro de 2012 em região de Floresta Amazônica não perturbada, perto do rio Juruena. Os pesquisadores utilizaram 144 iscas em 12 armadilhas em camadas inferiores e superiores (dossel) das árvores. O território analisado se encontra no Arco do Desmatamento, sofrendo pressões da expansão da agricultura.

Foram coletados 41 machos de E. fragrocara. Desses, 39 foram encontrados em outubro, juntos com a única fêmea entre os espécimes. O período úmido de outubro favoreceu os registros. Contudo, os dias de chuva intensa também influenciaram na descoberta dos indivíduos e os pesquisadores apontaram a necessidade de novos estudos em momentos sem chuvas intensas.

A ampliação do padrão de distribuição de mencionada abelha levantou a questão se existem efetivamente espécies endêmicas de Euglossini. O registro recente de Eufriesea flaviventris no Amazonas e no Pantanal corrobora o questionamento, que demanda novas análises. O artigo sugeriu também pesquisas futuras sobre as “abelhas de orquídeas” no Arco do Desmatamento, área que possui características diferentes devido à degradação de habitat e espécies.

Os espécimes coletados foram depositados no Acervo Biológico da Amazônia Meridional (ABAM) da UFMT e na coleção de insetos do Laboratório de Abelhas e Vespas Neotropicais (LABEVE) da UNEMAT.

 

Referência bibliográfica:

Souza, M. S., Izzo, T. J., & Anjos-Silva, E. J. (2015). Expanding the area of distribution of Eufriesea fragrocara Kimsey (Hymenoptera, Apidae) in the Brazilian Amazon Forest.

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