13

dez

2016

Pesquisadores medem a eficiência do reflorestamento na Fazenda São Nicolau a partir das relações mutualísticas entre formigas e plantas

Por forest
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A Pheidole gertrudae predominou na área de pastagem da São Nicolau (Foto: April Nobile/ Wikimedia Commons/ Creative Commons/ https://goo.gl/di2YmZ )

As florestas secundárias, que se regeneram sozinhas pela ação da natureza, se revelaram como método relevante para recuperar a interação entre plantas e formigas. O resultado do estudo realizado pelo professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) Dr. Thiago Izzo e parceiros poderá fundamentar planejamentos para a conservação ambiental na região sul da Amazônia brasileira. A maioria das pesquisas sobre projetos de reflorestamento de áreas degradadas analisa somente a perda das espécies, esquecendo os impactos nas interações ecológicas e nos serviços fornecidos ao ecossistema pelas referidas espécies.

O mutualismo é uma interação harmônica que ocorre no ecossistema, sendo fundamental para a sobrevivência de várias animais e plantas. Duas espécies distintas se beneficiam da relação, como as formigas e as plantas. Neste caso, é comum ocorrer a oferta de alimentos para as formigas em troca da proteção das plantas contra o ataque de herbívoros. A dimensão que estas funções alcançam na Amazônia brasileira fica evidente pela presença das plantas com nectários extraflorais (estruturas produtoras de néctar), que podem chegar até 53% e 270 espécies em algumas regiões da floresta.

O primeiro estudo realizado na São Nicolau, nos anos de 2010 e 2011, analisou o potencial do reflorestamento em recuperar os biomas e as interações entre formigas e plantas. Foram coletados e comparados dados de cinco paisagens distintas: florestas primárias e secundárias, reflorestamentos de teca e figo e pastagens. A hipótese inicial dos pesquisadores não foi comprovada: de que a distância dessas paisagens em relação à floresta primária influenciaria na diversidade, composição e riqueza do mutualismo entre plantas e formigas.

As florestas primárias foram os ambientes em que ocorreram o maior número de interações entre as espécies estudadas. Por outro lado, as pastagens, submetidas ao pisoteio de gado, apresentaram baixa riqueza de formigas e plantas, acarretando interações especializadas e em menor número. Nos pastos, a formiga Pheidole gertrudae foi responsável por cerca de 70% das interações dos espécimes com as plantas com nectários extraflorais.

Em comparação com as pastagens e as áreas de reflorestamento, a floresta secundária obteve melhor desempenho. Contudo, os pesquisadores ressaltaram a importância das florestas primárias e da recuperação correta de biomas para para a promoção da biodiversidade na Amazônia. Afinal, nenhuma das paisagens analisadas foi mais eficiente para as relações mutualísticas do que a floresta nativa.

O interesse pela diversidade de espécies também figura em outra pesquisa de Izzo e colaboradores. Os resultados do estudo mostram que a abundância das espécies é um fator chave na organização de redes mutualísticas. Entretanto, este elemento é insuficiente para explicar as estruturas formadas pela interação. Há a necessidade de se considerar também a presença e ausência de plantas com nectários extraflorais no ambiente, além da adaptação e o nível de competitividade entre as formigas pelos recursos disponíveis pela fauna. Além disso, o pareamento entre formigas e plantas é favorecido pela dependência gerada pelo néctar, como também pelas características e tamanho destes animais. Ou seja, inúmeros fatores contribuem para as relações de mutualismo entre as duas espécies, importantes para a conservação ambiental, e pesquisas futuras podem colaborar para compreender como a composição das redes de interação é afetada por dinâmicas coevolucionárias.

Referências Bibliográficas:

Falcão, J. C., Dáttilo, W., & Izzo, T. J. (2015). Efficiency of different planted forests in recovering biodiversity and ecological interactions in Brazilian Amazon. Forest Ecology and Management, 339, 105-111.

Dáttilo, W., Marquitti, F., Guimarães, P. R., & Izzo, T. J. (2014). The structure of ant–plant ecological networks: Is abundance enough?. Ecology, 95(2), 475-485.

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