28

mar

2017

Projeto de proteção à harpia na Amazônia coleta mais de cinco mil fotos de ninhos e promove o turismo responsável para observação da águia

Por forest
Projeto de proteção à harpia na Amazônia 1

Filhote de harpia registrado por foto de celular (Foto: Acervo do projeto “Construindo uma estratégia para a conservação da harpia na Amazônia”)

Os pesquisadores do projeto “Construindo uma estratégia para a conservação da harpia na Amazônia” monitoram atualmente sete ninhos de harpias no Arco do Desmatamento. A região Amazônica é o último refúgio da ave, ameaçada devido à perda de seu habitat natural com o desmatamento e ao abate das harpias em retaliação a predação de animais domésticos. O grupo de estudiosos, liderado pelo mestre em Ecologia e Conservação da Biodiversidade Everton Miranda, instala duas câmeras fotográficas em cada ninho encontrado para monitorar o comportamento das harpias e propor estratégias para defender a espécie.

Os sete pontos atuais de observação se localizam nos municípios mato-grossenses de Cotriguaçu, Parnaíta e Juruena. Os equipamentos nos ninhos de Aripuanã, Nova Bandeirantes e Apiacás foram removidos, resultando em mais de cinco mil fotos para análise dos hábitos da águia. Até o momento, as harpias não apresentaram nenhuma reação negativa às câmeras, como abandonar o ninho devido às atividades do projeto. Não houve mal funcionamento dos equipamentos fotográficos instalados e a taxa de descoberta de ninhos pela equipe é a maior entre os grupos de pesquisa sobre o tema.

Nem mesmo o ataque eventual da águia, protegendo o seu filhote, desanimou os estudiosos. O Everton sofreu a investida de uma harpia quando subia a árvore do ninho e pôde se defender ao firmar a perna na corda de escalada, se posicionando de frente para a ave. No último instante e a poucos metros de distância, a águia, que se aproximava com alta velocidade, desviou do alvo e pousou em um galho a quatro metros da cabeça do pesquisador. Quando Everton estava no chão, a ave também atacou o escalador profissional que acompanha as ações do projeto, Roberto Stofel.

A subida na árvore, no entanto, foi necessária para detectar a exata fase do ciclo reprodutivo do casal de harpias. Afinal, o projeto não introduz câmeras durante a reconstrução de ninhos ou em ninhos com ovos – o filhote deve ter mais de 15 dias de vida para a instalação do equipamento.

 

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A águia em diferentes poses capturadas pelas câmeras instaladas pelos pesquisadores (Foto: Acervo do projeto “Construindo uma estratégia para a conservação da harpia na Amazônia”)

 

Outro desafio que os pesquisadores enfrentam cotidianamente é a ação dos moradores locais. Os produtores rurais ameaçam as harpias, pois estas aves podem se tornar predadores de animais domésticos em áreas nas quais a floresta foi removida. Em 2016, o projeto realizou extensas entrevistas sobre a predação de animais domésticos e as análises poderão identificar ações para prevenir os ataques por parte das águias. Existe a intenção de, por exemplo, indenizar os produtores por aves, leitões, cães, e gatos mortos pelas harpias.

A promoção do turismo de observação de aves é uma outra estratégia para valorizar as águias, inclusive com retornos financeiros para os moradores locais. O projeto iniciou a articulação com uma importante empresa de turismo para a implantação de torres de observação de ninhos da harpia. O turismo responsável e cuidadosamente regulado deve contribuir para a conservação da espécie. A proposta é que, através da empresa, o turista pague uma taxa diária para o dono da propriedade, gerando empregos verdes na região e integrando a floresta preservada às economias locais.

No trabalho de procura dos ninhos, os principais aliados são os coletores de castanhas, que tiram o sustento da floresta. Em diversas ocasiões, eles encontram ninhos em castanheiras e mostram para os pesquisadores, recebendo a recompensa de 500 reais. O valor é a principal motivação para qualquer pessoa que trabalha no habitat da harpia entrar em contato com o projeto.

As atividades recebem patrocínio da ONF Brasil, Idea Wild, Rainforest Biodiversity Group, The Explorer’s Club, Rufford Small Grants e Mohamed Bin El Zayed Species Conservation Fund.

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