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fev

2020

Fazenda São Nicolau recebe segunda harpia resgatada por equipe de pesquisadores

Por forest

 

Filhote de Harpia

Filhote de harpia resgatado e liberado no meio ambiente (Foto: Eldile Oliveira)

Após três meses de cuidados, foi cortada a tela que separava o filhote de gavião real de sua liberdade. Essa águia, jovem macho, havia sido resgatada a pedido da Secretaria de Estado de Meio Ambiente de Mato Grosso (SEMA-MT) e foi a segunda solta na Fazenda São Nicolau. Confortável no recinto de recuperação, a ave frustrou as expectativas da fotógrafa Karine Aigner da National Geographic, que estava acompanhando o Everton Miranda e o Eldile Oliveira na ocasião. A intenção era registrar o voo da soltura, mas o filhote preferiu esperar a equipe se distanciar para explorar o mundo externo.

A ação faz parte do projeto “Construindo uma estratégia para a conservação da harpia na Amazônia”, liderado pelo biólogo e mestre em Ecologia e Conservação da Biodiversidade, Everton Miranda. O grupo de pesquisadores já catalogou 30 ninhos de harpias no Arco do Desmatamento em 4 anos e contam com a ajuda de coletores de castanha do Brasil, que recebem a recompensa de R$ 500,00 para reportar ninhos encontrados.

Para colaborar no resgate e na soltura do filhote da águia, Everton convidou seu ex-aluno: o engenheiro florestal Eldile Oliveira, servidor público no IFMT Campus Alta Floresta. Em uma crônica escrita por Eldile para o Eco, ele lembra as dificuldades da operação e a ansiedade de ver o filhote voar livremente pela primeira vez.

O resgate se iniciou em outubro do ano passado, quando, após o pedido da SEMA-MT, Everton e Eldile se dirigiram para Colniza (MT), a 1.064 km de Cuiabá. Uma família havia encontrado o filhote em uma área de desmatamento ilegal onde o animal poderia ter morrido pela queda quando a árvore em que seu ninho estava foi derrubada.

A família cuidou da águia por quatro meses, enquanto buscava por instituições de reabilitação e reintrodução de animais silvestres na natureza. Os familiares acessaram o Secretário de Agricultura de Colniza, Helio Mendes de Souza, para comunicar os órgãos ambientais da existência do filhote. Foi então que a SEMA-MT soube do caso e contatou o Everton.

A equipe do projeto enfrentou chuvas intensas e estradas precárias para chegar à propriedade da família. Quando faltavam 60 km para chegar a Colniza, se depararam com dois caminhões atravessados na estrada, cenário típico na região, e tiveram que dormir no caminho, em uma pequena vila.

Mas, no dia seguinte, chegaram ao local e se maravilharam com a harpia. “Poder ver o filhote tão de perto foi bastante emocionante para mim. No entanto, também me fez pensar no fato de que a Floresta Amazônica, com sua tão rica biodiversidade, está sendo devastada para que uma única espécie, o boi, passe a dominar as paisagens outrora exuberantes”, explicou Eldile.

O transporte da águia para Cotriguaçu (MT) contou com um recinto preparado especialmente para o filhote. Finalmente, com muita chuva às 23 horas, os pesquisadores passaram a ave para um outro recinto na Fazenda São Nicolau, espaço onde o animal ganhou peso e se acostumou com o ambiente.

Eldile também participou do processo de soltura do filhote em janeiro deste ano. Além dos pesquisadores, a National Geographic esteve presente para registrar o momento singular e as atividades do projeto das harpias, acompanhadas pela fotógrafa Karine Aigner e pela repórter Rachel Nuwer.

Às 10 horas, um dos lados da tela do recinto foi aberta. Porém o filhote não se interessou por sair de seu ninho artificial. O grupo decidiu seguir para o almoço, pensando que a privacidade poderia ser um estímulo para o animal alçar seu voo (ele ficou na companhia apenas da fotógrafa). Porém, até 13 horas o filhote não havia se movimentado. A liberdade foi alcançada posteriormente, quando ninguém estava olhando.

Mesmo reintroduzido no ambiente, o filhote ainda deve receber alimentos a cada três ou quatro dias por dois anos, quando se espera que ele seja capaz de sozinho capturar suas presas na Floresta Amazônica.

Anteriormente, outras duas harpias haviam sido resgatadas. A primeira, muito enfraquecida, infelizmente, morreu quando a equipe tentava liberar as licenças ambientais. A segunda, uma fêmea, foi solta na natureza e continua a receber alimentos. O desejo é que as duas águias virem um casal e construam um ninho na Fazenda São Nicolau.

 

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