Os professores Lucas e Frederico apoiam os estudantes no trabalho de campo (Foto: Acervo ONF Brasil)

Os professores Lucas e Frederico apoiam os estudantes no trabalho de campo (Foto: Acervo ONF Brasil)

De 8 a 28 de agosto, foi realizado o Curso de Ecologia de Campo com o objetivo de melhorar a formação profissional e proporcionar a imersão de futuros ecólogos e cientistas da biodiversidade em um ambiente prático, a Fazenda São Nicolau. Os 16 alunos do programa de pós-graduação em Ecologia e Conservação da Biodiversidade da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), além de dois estudantes de graduação, têm a oportunidade de aplicar, no trabalho de campo, as técnicas e teorias que haviam aprendido em sala de aula.

A formação já virou uma tradição na Fazenda, produzindo publicações relevantes (veja aqui e aqui). Estruturado como uma disciplina obrigatório do programa de pós-graduação, ele ocorre anualmente. Segundo o coordenador da atividade, o Dr. Thiago J. Izzo, “a estrutura do curso é algo já bem testado e comprovadamente eficaz em anos anteriores”.

Neste ano, o curso teve a participação dos doutores Thadeu Sobral, Domingos Rodrigues, Jerry Penha e Alberto Teixido. Além disso, houve a presença de professores de outros universidade, aumentando a variedade de visões, perspectivas, técnicas e áreas de estudos. Os convidados dessa edição foram os doutores Ricardo Eduardo Vicente (Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT), Frederico Neves (Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG), Pablo Antiqueira (Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP) e Lucas Kaminski (Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS).

A programação do curso é bem diferente das disciplinas lecionadas em sala de aula. Desde o início, os estudantes são orientados pelos professores para pesquisarem utilizando o método científico. Eles cumprem cuidadosamente todas as etapas: fundamentação da hipótese, desenvolvimento dos testes, a obtenção e a análise de dados, a discussão dos resultados e a conclusão. Esse processo se repete a cada dois dias, sempre com redação e apresentação das informações.

Após sete dias do final do curso, os participantes aplicam as suas hipóteses, métodos e testes, desenvolvendo uma apresentação mais robustas dos resultados para os colegas. É um momento de compartilhamento de informações, quando recebem o apoio da turma e dos professores. Esses atuam como consultores e contribuem para que os alunos possam pensar, analisar e escrever sobre os objetos selecionados. Atualmente a turma do curso está nessa esta e a expectativa é que, em breve, novos artigos científicos sejam divulgados.

O exercício da mentalidade crítica e da precisão científica é combinado com técnicas de divulgação. Para o Thiago, essa abordagem não é de modo algum excessiva, mas expressa as aptidões necessárias da área. “Um cientista necessariamente deve saber obter, interpretar e, sobretudo, debater argumentos científicos. Ainda mais se tratando de cientistas em Ecologia e Biodiversidade, uma área tão necessária e que está no foco dos debates internacionais da atualidade”, argumenta.

A turma de mestrando e doutorando na mata da São Nicolau (Foto: acervo ONF Brasil)

A turma de mestrando e doutorando na mata da São Nicolau (Foto: acervo ONF Brasil)

A influência do curso na trajetória dos estudantes não é pequena. Diversos projetos de mestrado e doutorado nascem a partir dessas experiências de imersão. A parceria da ONF Brasil com a UFMT é essencial para garantir o contínuo encantamento das turmas com a biodiversidade da Fazenda São Nicolau. “O curso foi apenas viável dado o imenso apoio e carinho oferecidos pela ONF Brasil, já parceira de longa data da UFMT e sempre nos apoiando”, explica Thiago.

Na Fazenda, os pós-graduandos se surpreenderam coma variedade de fauna e flora. Viram o trabalho de restauração de paisagem com a aplicação do conhecimento científico e distintas técnicas em talhões de plantio de espécies vegetais. Também avistaram uma onça, veados, porcos, quatis e até a majestosa Harpia.

Em meio à imensa riqueza natural, os alunos levantam questões de pesquisa, mostrando, por exemplo, o interesse por saber se a biodiversidade está retornando às áreas recuperadas, que anteriormente eram pasto. Outros temas abordados nas apresentações foram: ecologia de peixes e invertebrados aquáticos, mutualismos, espécies facilitadoras do processo de restauração, distribuição da biodiversidade, processos ambientais e engenharia ambiental e de ecossistemas.

Os artigos dos alunos podem gerar publicações científicas. Além da produção, a turma soma novas experiência para seu futuro profissional e um olhar mais sensível para a biodiversidade.

  Capa do guia ilustrado sobre as espécies de anuros da Fazenda São Nicolau, produzido pelos participantes do curso de ecologia de campo do programa de Pós-graduação em Ciências Ambientais (Imagem: Curso de Ecologia do Campo)


Capa do guia ilustrado sobre as espécies de anuros da Fazenda São Nicolau, produzido pelos participantes do curso de ecologia de campo do programa de Pós-graduação em Ciências Ambientais (Imagem: Curso de Ecologia do Campo)

 

Para a surpresa dos estudantes, em uma saída de campo para coletar material sobre peixes, encontraram totalmente seco um riacho que, no dia anterior, estava com quase meio metro de profundidade. Diante do susto dos mestrandos, os professores explicaram que esse fato é comum quando se trabalha com  a natureza e, quando o período de coleta é maior, é possível retornar ao local em outros dias, esperando que o córrego encha de água. Porém, como a prática era de apenas um dia, o grupo abraçou outro projeto para coletar dados e apresentar os resultados.

A situação foi um dos momentos marcantes da sexta edição do “Curso de Ecologia de Campo”, vinculado à linha de pesquisa em “Conhecimento, uso e conservação da biodiversidade” do programa de pós-graduação em Ciências Ambientais da UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso), campus de Sinop. Foram nove dias de formação, entre 13 e 21 de novembro, para os alunos criarem e testarem hipóteses na Fazenda São Nicolau, considerando as teorias discutidas em sala e/ou com o supervisor.

O curso é coordenado pelo professor Dr. Domingos Rodrigues, membro do Comitê Científico e Técnico do Projeto Poço de Carbono Florestal Peugeot-ONF, e a maioria dos participantes são mestrandos do programa em Ciências Ambientais. Contudo, alunos especiais e estudantes de outros programas também são selecionados por edital específico divulgado no site da UFMT. Na atual edição, a turma contou com uma doutoranda do programa de pós-graduação em Física Ambiental do campus da UFMT de Cuiabá.

Rodrigues explica a importância da iniciativa, destacando a rica biodiversidade da Fazenda, onde é possível estudar muitos grupos de organismos. A logística disponível contribui para garantir espaço para a triagem do material e para a apresentação dos projetos. O acesso à conexão da internet também permite pesquisar artigos mais específicos, que ajudam os alunos na discussão dos resultados alcançados.

O conteúdo da formação compreende entender os inventários biológicos, as técnicas de coleta e de análise de dados, além da elaboração de hipóteses. Neste ano, uma inovação foi a realização de saídas de campo à noite, uma oportunidade para que os estudantes percebam as diferenças entre os estudos diurnos e noturnos.

Nos primeiros dias, é comum os participantes ficarem apreensivos, pois o tempo é curto e sentem que o nível de formação é intenso. Mas, quando voltam para a universidade percebem que assimilaram muitas informações e logo perguntam quando será a próxima edição. Segundo Rodrigues, eles conseguem entender o ganho intelectual que um curso desse nível é capaz de oferecer, principalmente porque podem aplicar as práticas em suas dissertações (por exemplo, aprendem como melhor redigir um texto acadêmico).

Na noite da chegada à Fazenda, após o jantar, os estudantes discutiram com os supervisores as atividades a serem realizadas no dia seguinte pela manhã: as hipóteses, os organismos a serem estudados, o local de coleta e o desenho amostral. No período da tarde, eles fizeram a triagem do material coletado, analisaram os dados e começaram a trabalhar na apresentação e no relatório, a ser escrito no formato de um artigo. Após o jantar do segundo dia, eles apresentaram os estudos realizados na manhã para os professores e os estudantes. O debate da turma apontou sugestões para os títulos do trabalho, a qualidade e a quantidade dos dados coletados e os usos ds análises estatísticas.

Apesar de não ser um requisito do curso, a turma fez guias ilustrados sobre a biodiversidade da Fazenda, servindo como um treinamento para os estudantes divulgarem a informação científica para o público leigo. O material contém a identificação das espécies coletadas e possui potencial para futuras publicações a partir do aumento da amostragem.