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Equipe da ONF Brasil e parceiros planejam e instalam as parcelas permanentes (Foto: ONF Brasil)

 

Entre outubro de 2018 e fevereiro de 2019, doze parcelas permanentes de monitoramento da floresta foram instaladas e inventariadas na Fazenda São Nicolau. Elas foram idealizadas durante estudo realizado pelo projeto PETRA e permitirão medir os impactos do manejo florestal sustentável, considerando a regeneração de espécies vegetais, o comportamento da flora local e o retorno do crescimento florestal.

Segundo o engenheiro florestal Alan Bernardes, para garantir a representatividade da amostragem, foram instaladas seis parcelas de 1 hectare cada na área da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) — onde não há nenhum tipo de exploração ou extração — e outras seis na área de manejo florestal — na região da primeira Unidade de Produção Anual (UPA 1) do Plano de Manejo Florestal Sustentável. As parcelas foram planejadas a partir da parceria entre a equipe da ONF Brasil, o Departamento de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), representado pelo professor Dr. Samuel Carvalho, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Amazônia Oriental, por meio do pesquisador Dr. Lucas Mazzei e do técnico Jair de Costas Freitas, e o Centro de cooperação internacional em pesquisa agronômica para o desenvolvimento (CIRAD), por intermédio dos pesquisadores Dr Plinio Sist e Lilian Blanc.

Para a escolha da localização das parcelas, foi usada uma malha aplicada em cada mapa das zonas: RPPN e UPA. As áreas localizadas dentro das APPs, que protegem os cursos d´água e onde não haverá exploração, e das estradas previstas no plano de manejo da UPA foram excluídas da malha. A localização da primeira parcela em cada uma das zonas foi definida aleatoriamente através de sorteio. A ordem das demais parcelas foi estabelecida em sequência de forma sistemática.

Em outubro, a Fazenda recebeu a vista do Prof. Samuel e, em fevereiro, a do Lucas e do Jair da Embrapa Amazônia Oriental, quando ambos puderam compartilhar suas experiências e ajudar no inventário inicial para garantir os bons procedimentos e a qualidade da coleta dos dados. Com o apoio do engenheiro Saulo e estudantes da UFMT, a equipe multidisciplinar realizou o levantamento da vegetação nas 12 parcelas seguindo protocolo elaborado e aprovado por todas as instituições científicas envolvidas na atividade. Depois da exploração da UPA 1 e a cada três anos, haverá nova coleta de dados em todas parcelas para acompanhar o comportamento da vegetação.

 

As primeiras medições foram realizadas e serão repetidas após a exploração florestal (Foto: ONF Brasil)

As primeiras medições foram realizadas e serão repetidas após a exploração florestal (Foto: ONF Brasil)

 

O monitoramento por inventários sistemáticos em parcelas permanentes é uma ferramenta que permite o monitoramento das características da floresta antes e após o manejo. A ação está prevista na legislação de Mato Grosso, com amostragem e protocolo próprio para acompanhar o impacto dos planos de manejo florestais sustentáveis aprovados. Na São Nicolau, a atividade se conecta a objetivos científicos mais amplos, o que determinou o uso de uma metodologia mais abrangente, o tamanho escolhido para as parcelas e subparcelas, como também o protocolo de inventário.

A ONF Brasil deseja fornecer dados para as Redes de Parcelas Internacionais (TmFO e Redeflor), que monitoram dados de florestas tropicais no mundo inteiro. A partir desse compartilhamento, é possível desenvolver análises complexas sobre estudos de dinâmica de vegetação, produção florestal, importância da floresta em diversos contextos e seu papel no controle das mudanças climáticas.

No momento, os dados levantados estão em fase de sistematização e processamento para serem analisados. Futuramente, parte dos dados serão também utilizados na dissertação de mestrado do Alan, orientado pelo Professor Samuel no programa de Mestrado em Ciências Ambientais e Florestais da UFMT, campus Cuiabá. A expectativa é que a compreensão do comportamento das espécies após a exploração florestal possa produzir informações importantes para a conservação da floresta e suas potencialidades.

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Em Cuiabá, proprietários de RPPNs e parceiros debatem os desafios e um plano de ação para as áreas (Foto: Organização do evento)

 

A RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural) Peugeot-ONF Brasil tem participado ativamente dos eventos para debater o planejamento estratégico dessas áreas, a formação de uma rede de conservação ambiental voluntária, a legislação brasileira e formas de garantir o apoio econômico para esses territórios. A agenda se abriu com o Primeiro Encontro de Proprietários de RRPN do Estado de Mato Grosso, realizado em 07 de junho em Cuiabá. O objetivo do evento era fortalecer e gerar a troca de experiências entre as iniciativas de RPPNs mato-grossenses. Os envolvidos também divulgaram a Carta Cuiabá com um plano de ação para o grupo.

Estiveram presentes gestores e parceiros das RPPNs SESC Pantanal, Cristalino, Cachoeira do Tombador e Ecotrópica, além de membros da Coordenadoria de Unidades de Conservação da SEMA/MT, do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) e do WWF-Brasil.

Durante o encontro, autoridades ambientais apresentaram os marcos legais para as reservas, como também medidas para melhorar o registro e a gestão das áreas. As informações foram complementadas pelos depoimentos dos proprietários, que compartilharam desafios com os custos e as dificuldades enfrentadas para manter as áreas preservadas. O grupo lembrou as vocações das reservas para atividades de ecoturismo, pesquisa e educação ambiental. O consenso é de que os serviços socioambientais produzidos pelas reservas têm abrangência que ultrapassa a área delimitada pela propriedade. Juntas, as RPPNs participam do mosaico de áreas protegidas e são essenciais para a preservação ambiental.

Produzido durante o evento, o texto da Carta de Cuiabá valorizou as RPPNs e apontou orientações para o futuro desses territórios. Algumas das ações sugeridas foram a formação de uma rede de conservação voluntária, a constituição de um programa estadual para a gestão, capacitação, articulação e informação dos envolvidos, a organização de oficinas sobre linhas de financiamento, a adequação e a atualização do decreto estadual sobre as reservas, a criação de mecanismos de repasse do ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadoria e Serviços) ecológico, a elaboração de uma lei estadual de PSA (Pagamento por Serviços Ambientais) que abranja as RPPNs e regulamente a lei de mudanças climáticas.

Para a ONF Brasil, o segundo passo, logo no mês seguinte, foi a participação no V Congresso Brasileiro de RPPN: O Futuro das RPPNs. A instituição foi representada por sua diretora, Estelle Dugachard, e o convite partiu do Laercio Machado de Sousa, presidente da REPAMS (Associação de proprietários de RPPNs do Mato Grosso do Sul) e membro da CNRPPN (Confederação Nacional de RPPNs).

O evento divulgou números impressionantes. Atualmente são mais de 1.500 RPPNs que conservam, de forma voluntária, 800.000 hectares de áreas naturais em todos os biomas brasileiros. Muitas propriedades ainda estão em processo de registro e aprovação pelos órgãos ambientais competentes e o número deve continuar a crescer. As RPPNs representam mais da metade de todas as Unidades de Conservação (UCs) do país. Elas privatizam os custos de conservação e socializam os seus benefícios. Os palestrantes estrangeiros elogiaram a extensão e o alcance das RPPNs brasileiras e a organização desse movimento, que cresce com responsabilidade e atrai a participação dos jovens.

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800.000 hectares de terras protegidas pelas RPPNs (Foto: ONF Brasil)

 

A Estelle Dugachard ficou tocada pelos testemunhos dos proprietários das reservas, eles revelaram grande amor pelas áreas e um desejo de que a conservação possa favorecer o máximo de pessoas hoje e, no futuro, trazer benefícios para os “herdeiros do planeta”. O principal desafio para eles é conseguir compartilhar com a comunidade as motivações para a conservação. Outros temas explorados no congresso foram o planejamento estratégico, a perenidade dos cuidados, a sustentabilidade econômica e os intercâmbios de experiências nacionais e internacionais. No final do evento foram assinadas uma moção e uma carta aberta aos candidatos às eleições de 2018, solicitando o apoio às reservas, e foi realizada a Assembleia da Confederação Nacional de RPPNs. Na semana seguinte, a pauta continuou atual no IX Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação (IX CBUC). O próximo congresso brasileiro de RPPNs está marcado para 2020 em Palmas, Tocantins.

“Saio do Congresso com muito ‘otimismo realista’ ao ver a força do movimento que se organiza”, afirmou Estelle. A diretora lembra dos resultados e dos benefícios ambientais gerados pelas reservas. Ela aponta para a importância das soluções sustentáveis apresentadas para a geração de renda e oportunidades profissionais. Afinal, as reservas são movidas pelo amor à natureza, mas o seu futuro depende da sustentabilidade e perenidade econômicas, “com o objetivo de sempre aumentar e melhorar a distribuição dos benefícios gerados pelas reservas”, explicou.

Na Fazenda São Nicolau, a formalização da RPPN consagrou a vocação e o caminho natural das atividades de conservação da ONF Brasil e de seus projetos, como o Poço de Carbono Florestal Peugeot-ONF. A reserva está situada no polígono Cabeceiras do Rio Aripuanã, código AM-125 segundo o mapa datado de 2000. O local é caracterizado como Áreas Prioritárias para a Conservação, Utilização Sustentável e Repartição de Benefícios da Biodiversidade Brasileira. A região é considerada de prioridade extremamente alta para a criação de Unidades de Conservação. A existência da RPPN permite a conexão com outras áreas de conservação do território, criando corredores ecológicos para a vida silvestre. A reserva participa do Corredor dos Ecótonos Sul-amazônicos, área mais ameaçada atualmente devido ao avanço de empreendimentos agrícolas e pecuários no trecho da Amazônica localizada ao Norte de Mato Grosso

A RPPN Peugeot-ONF Brasil é uma área de proteção integral e, portanto, não pode ser utilizada para a coleta de castanha ou para o extrativismo sustentável da madeira. Por outro lado, o espaço apoia ações de pesquisa, educação ambiental e, recentemente, ecoturismo. Para os estudos, a RPPN serve para a comparação da biodiversidade e do impacto de atividade de manejo em relação a outras áreas de floresta nativa e de reflorestamento. Em breve, a certificação de socialcarbon deve mensurar os efeitos positivos dessas ações. Além disso, essa ilha preservada de floresta pode gerar renda pelo ecoturismo e valorizar os conhecimentos tradicionais locais no futuro.

Luciana Rebellato; Roberto Silveira; Miranda et al. 2011; Rodrigues et al. 2011

Fotos: Luciana Rebellato; Roberto Silveira; Miranda et al. 2011; Rodrigues et al. 2011

Nesta segunda-feira (07/03), a Secretaria de Estado de Meio Ambiente de Mato Grosso aprovou o Plano de Manejo da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Peugeot-ONF Brasil. A reserva com 1.781,30 hectares foi instituída em 2010 como uma unidade de conservação estadual de proteção integral. O documento, disponível aqui, indica os caminhos para a gestão da área, considerando normas e restrições de uso em acordo com o seu zoneamento.

 

Segundo o plano de manejo, as áreas protegidas – de vital importância como estratégia de conservação da biodiversidade – são consideradas ferramentas relevantes para a gestão de ecossistemas quando acompanhadas por políticas adequadas. O Brasil tem se destacado como uma das lideranças mundiais para a conservação da biodiversidade. A decisão de se criar uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), unidade de conservação privada, a partir de um ato espontâneo e exclusivo dos proprietários, demonstrou o compromisso exemplar da Peugeot e ONF Brasil com a conservação da natureza.

 

Na Fazenda São Nicolau em Cotriguaçu (MT), onde a reserva se localiza, diversos levantamentos da biodiversidade foram realizados tendo à frente pesquisadores da UFMT de Cuiabá e Sinop (MT). Dentre os estudos, se destacam os inventários da flora herbácea e arbórea, como também da fauna, que incluíram abelhas, besouros rola-bosta, formigas, répteis escamosos, aves e mamíferos. Determinados grupos da fauna tiveram espécies registradas pela primeira vez para o estado de Mato Grosso (e até para o Brasil). Atualmente os levantamentos da fauna e flora na RPPN da Fazenda São Nicolau continuam com a participação de pesquisadores brasileiros e franceses.