07
maio
2019
Pauline Dacquin e Félicien Degueldre da Universidade de Bruxelas (Unilversité Libre de Bruxelles) estiveram na Fazenda São Nicolau no início do ano para consolidar a parceria com a Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), acompanhando o trabalho de campo do pesquisador e professor do Programa de Pós-graduação em Biodiversidade e Agroecossistemas Amazônicos (PPGBioAgro) Ricardo Eduardo Vicente.
Durante os meses de fevereiro e março, o grupo de pesquisadores percorreu 20 quilômetros de trilhas na floresta das parcelas do Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBio) na Fazenda. O objetivo era mapear os chamados Jardins-de-formigas e analisar a organização social das espécies Crematogaster levior e Camponotus femoratus. Após o levantamento dos ninhos presentes na área, houve a coleta de dados e de exemplares para a avaliação genética.
Os Jardins-de-formigas são interações que ocorrem entre formigas e plantas epífitas — aquelas que crescem sobre outras plantas. É uma grande colônia formada por vários ninhos das C. levior e C. femoratus. A partir da construção de ninhos na vegetação, as formigas são responsáveis por semearem, adubarem e protegerem as epífitas. Em troca, essas espécies vegetais fornecem alimentos para as formigas, controlam a umidade do ninho e as suas raízes suportam a expansão dessas estruturas. Segundo Pauline, essas relações simbióticas são pouco estudadas.
No entanto, Ricardo recorda a complexidade dessa interação: os Jardins-de-formigas criam microcosmos, inclusive com o envolvimento de insetos aquáticos que se reproduzem dentro de bromélias localizadas nesses jardins. Orientada por Thiago Junqueira Izzo em 2016, a tese de Ricardo apresentou dados preliminares de que os Jardins-de-formigas direcionariam o processo de sucessão da floresta, promovendo uma mancha de biodiversidade única. Portanto, essa interação se torna relevante para moldar a dinâmica temporal e espacial da biodiversidade na Amazônia.
O recente estudo na Fazenda São Nicolau foi desenvolvido em duas visitas: de 7 a 18 de fevereiro e de 6 a 15 de março. As atividades logísticas receberam a colaboração dos professores Domingos Rodrigues (UFMT), Ivone Vieira, Mendelson de Lima e Vinicius Morais, além de mestrandos e graduandos da UNEMAT. Durante o trabalho de campo, foram encontradas cinco colônias de C. femoratus e C. levior na área do PPBio e amostras dos ninhos foram coletadas. Considerando o interesse dos estudiosos também nas relações reprodutivas das referidas espécies, os ninhos foram dissecados e o número de operárias, rainhas e formigas reprodutivas foi computado. Ricardo ressalta que apesar de não ser o alvo deste estudo, foram encontradas Jardins-de-formigas de outras espécies, como de Odontomachus sp que dividia ninho com Dolichoderus sp e outros Jardins construídos por Azteca sp.
A coleta permitiu aos pesquisadores compreenderem a evolução da interação: desde a criação do ninho até a formação de uma organização social. Os ninhos menores e iniciais foram construídos e cuidados pelas C. levior. Em seguida as C. femoratus colonizavam esses ninhos. As descobertas estão em consonância com estudos realizados anteriormente.
As amostras e os dados levantados foram levados para o Laboratório de Biologia Vegetal da UNEMAT e para Universidade de Bruxelas. O processamento no Brasil conta com o apoio dos estudantes Willian Schornobay, Gabriela Mendes, Jaidle Evangelista do Vale, Luiz Scatola, Igor Pereira do Nascimento, Leandro Fagner da Silva e João Paulo Schmitt.
“Essa interação dos acadêmicos com pesquisadores de outras regiões auxilia no conhecimento de outros cenários, intercâmbio de ideias e no entendimento da importância da Amazônia em um contexto local e internacional. A pesquisa, que ainda está em processamento de dados em laboratório, irá resultar em publicações em revistas cientificas de peso internacional e resumos submetidos para apresentação em um simpósio internacional de mirmecologia”, explica Ricardo.
A expectativa dos pesquisadores belgas é analisar a estrutura genética das populações, o que exige equipamento específico. Pauline planeja identificar informações sobre trocas genéticas dentro e entre as colônias, considerando a distância de fundação e propagação dessas organizações sociais.
A pesquisadora afirmou que a Fazenda é um lugar maravilhoso para pesquisas, pois, além do conforto das infraestruturas da sede, possui diferentes tipos de florestas e inúmeras espécies de plantas e animais. O espaço oferece muitas possibilidades e, para biólogos, o trabalho na São Nicolau é como estar no paraíso.
Essa foi a primeira visita de Pauline à propriedade, mas Ricardo mantém um contato próximo com a Fazenda há vários anos. A descoberta do local aconteceu em 2009, durante a disciplina Ecologia de Campo, organizada pelo professor Thiago Izzo . Desde então, o pesquisador realizou diversos trabalhos sobre biodiversidade e ecologia de formigas na Fazenda, chegando a identificar muitas espécies ainda não conhecidas em Mato Grosso e ministrando disciplinas de pós-graduação organizadas pelo professor Domingos de Jesus.
“Além de apresentar uma infinidade de possibilidades, cenários da biodiversidade e sustentabilidade na Floresta Amazônica, o envolvimento, o suporte e a receptividade de todos os integrantes da Fazenda sempre foram indispensáveis”, elogia.
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