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ago

2020

De temidas a colaboradoras: as abelhas oferecem uma nova atividade produtiva para a Fazenda São Nicolau

Por forest
Abelhas em uma das caixas a serem utilizadas para a produção de mel (Foto: Saulo Thomas/ONF Brasil)

Abelhas em uma das caixas a serem utilizadas para a produção de mel (Foto: Saulo Thomas/ONF Brasil)

O interesse pela apicultura surgiu em 2013, quando o engenheiro florestal Felipe Daher, então coordenador da integração local da Fazenda São Nicolau, organizou um curso de apicultura em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) para os colaboradores e agricultores do assentamento vizinho. Porém, inicialmente, as abelhas eram vistas como um desafio a ser enfrentado por causa dos enxames em torno das colônias que insistentemente eram construídas nos alojamentos, principalmente na varanda da casa de hóspedes. Atualmente essas abelhas são vistas como uma riqueza local e a equipe da São Nicolau construiu um apiário piloto em uma Área de Preservação Permanente (APP) restaurada.

Desde a realização do curso, os equipamentos (macacão e fumigador) na fazenda eram usados apenas para deslocar colmeias indesejadas para locais mais adequados, como as caixas de madeira usadas para os novos ninhos. Mas, logo após a transferência, a equipe de colaboradores já ficava ansiosa pela coleta do mel.

Em 2019, essa prática que era vista como acessória surgiu como uma possibilidade de atividade produtiva sustentável para aumentar a viabilidade econômica da São Nicolau e contribuir para os impactos socioambientais positivos, de acordo com os objetivos traçados para o plano de ação local

O primeiro passo para estruturar a produção do mel foi a integração do tema à agenda do Programa de Educação Ambiental no ano passado. Dois especialistas da região participaram com palestras e apontaram o potencial da Fazenda para a produção de mel, tanto com a meliponicultura (uso de abelhas nativas sem ferrão) quanto com a apicultura (uso da abelha europeia ou africanizada, como é chamada no Brasil)

Não demorou muito e uma parceria foi firmada com um produtor de caixas de abelhas na região. Gilberto Araújo, gerente de campo conhecia Leonardo Stumm, que confeccionava as caixas e começava a se interessar pela produção de mel. Ele precisava de acesso a propriedades com área de floresta, como é o caso da São Nicolau.

O mel das primeiras caixas de abelha é compartilhado com os colaboradores e turistas (Foto: Saulo Thomas/ONF Brasil)

O mel das primeiras caixas de abelha é compartilhado com os colaboradores e turistas (Foto: Saulo Thomas/ONF Brasil)

O objetivo é instalar neste ano um apiário piloto, em uma APP restaurada da Fazenda, com 20 colmeias transferidas da sede ou obtidas em resgates no Plano de Manejo Florestal e nos talhões de teca. Entretanto, já foram realizadas cinco tentativas de resgates, mas as abelhas não se fixavam nas caixas (e outras caixas também foram derrubadas pela invasão de gado na APP). No momento, duas caixas foram transferidas recentemente para o apiário, uma aguarda o fortalecimento para ser transportada e uma outra colmeia, que está muito próxima à horta, será transferida para uma caixa ainda este mês.

O mel obtido até o momento foi das transferências de colônias. Contudo, o objetivo é consolidar o apiário para atender a demanda da Fazenda, que pode chegar a 40 kg/ano. Os colaboradores e turistas se deliciam com a distribuição desse alimento e a intenção é dividir posteriormente a produtividade também com o parceiro responsável pelo manejo, que futuramente poderá comercializar o produto externamente.

As práticas de produção devem se encaixar no movimento propositivo que busca reverter o contexto de desaparecimento das abelhas. A ideia é unir a apicultura e a agricultura na São Nicolau, em especial no que se refere ao cultivo do café. Essa ação é embasada por pesquisas que relatam aumento de produtividade de diversas culturas em até 30% e, no caso do café, a associação com a apicultura significa mais qualidade à bebida.

A extinção em massa desses polinizadores tem ocorrido nas últimas décadas. As abelhas e as plantas com flores e frutos (angiospermas) surgiram e evoluíram juntas, há 140 milhões de anos. Mas o desaparecimento das abelhas se relaciona com atividades agrícolas, estando diretamente ligado à intoxicação por agrotóxicos. Esse fato é muito preocupante, pois 70% das plantas de importância para a alimentação humana são necessariamente polinizadas por esses insetos e, segundos estudos, sem a abelhas, a humanidade só teria mais 4 anos de existência.

Por isso que o agronegócio sustentável foi tema de uma live sobre a atuação das mulheres no setor, contando com a participação de Tereza Cristina (ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), Paula Costa (Preta Terra), Vanusia Nogueira (Centro de Comércio de Café de Minas Gerais) e mediada por Andresa Berreta (startup de tecnologia Agrobee). A startupdivulgou inclusive um aplicativo que conecta criadores de abelhas e agricultores.  

Dessa maneira, em paralelo, há planos para aumentar a criação de abelhas sem ferrão na horta orgânica, aumentando a produção pela polinização. Essas abelhas sem ferrão já são apresentadas durante o Programa de Educação Ambiental. 

As pesquisas também contribuem para planejar a produção de mel na fazenda. Uma pesquisa de doutorado realizada na São Nicolau sobre abelhas solitárias comparou dados da floresta primária, secundária, reflorestamentos com nativas, exóticas e pastagem. O estudo, realizado por Gustavo Júnior de Araújo no curso de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação da Biodiversidade da Universidade Federal de Mato Grosso (PPGECB-UFMT), apontou maior abundância de abelhas nas áreas de reflorestamento com plantas nativas e exóticas (em comparação com a pastagem). Porém os dados  mostraram também alguns parâmetros de populações em risco, como maior percentagem de emergência de abelhas masculinas, o que foi atribuído à pouca diversificação do sistema 

Ademais das atividades de educação ambiental e de pesquisa, o contato com outras iniciativas regionais continua, enquanto se considera a possibilidade de buscar investimentos para adquirir colônias já estruturadas e com melhoramento natural das rainhas. A sistematização da produção de mel e a aplicação de técnicas com impactos socioambientais positivos são o caminho para pensar a comercialização desse produto.

 

 

 

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